09 agosto 2012

Falso-riso

Ela era a garota mais feliz que eu já havia conhecido. Linda, simplesmente muito linda. Seu sorriso provocava o meu. E só a sua presença já fazia diferença. Inocente. Ela era uma garota sonhadora. Acreditava fácil demais. Estava apenas começando a conhecer o mundo. Pobre menina, tão jovem e já aprendendo tanto com a vida. De tanto acreditar acabou quebrando a cara. De tanto sonhar alto acabou caindo. E de tão inocente teve seu coração quebrado.As coisas ruins começaram a ser seqüenciadas, ela mal tinha tempo de se levantar do ultimo tombo que já era derrubada novamente. E então a garota foi deixando de ser feliz, foi perdendo aquele sorriso, e já não saia muito de seu quarto. Quando estava junto de outros tentava fazer como se tudo estivesse bem, mas eu via em seus olhos quanta tristeza  ela carregava. Ela ainda sorria, mas percebi que era falso. Ela não era mais aquela garotinha. Agora ela tinha crescido. Tinha aprendido da pior forma o quão ruim as pessoas são. Cresceu e se tornou uma pessoa fria, calculista e tão distante. Marcas começaram a aparecer em seu corpo, e eu não sabia o que era. Seu braço estava repleto de cicatrizes, mas ela as escondia debaixo daquela jaqueta.Eu tentei ajudar, quis me aproximar mas ela não deu espaço. Acho que estava com medo de confiar novamente. Ela tinha se fechado para o mundo. Já era de se esperar. Acho que ela havia cansado de se machucar tanto, de acreditar tanto, de se ferrar tanto por causa das pessoas. Agora era ela, só ela, sozinha, mais ninguém. Assim ela não quebrava a cara, ou o coração, novamente. Eu percebi que cada vez menos ela saia. E quando saia estava sempre com aquela jaqueta, uma calça jeans e um falso riso no rosto. Todos acreditavam, e devo dizer que eu muitas vezes também acreditei. Ela fingia bem. Um dia notei que a manga da sua jaqueta estava meio levantada, ela não havia percebido isso, e eu quando reparei bem em seu braço vi cortes, muitos cortes. Assustei. Mas não soube o que fazer. Fiquei quieto, mas se soubesse o que aconteceria depois de algum tempo teria feito algo.  […] Fazia um tempo que não via mais a garota, lembrei dos cortes em seu braço e me preocupei, fiquei pensando o que teria acontecido. Caminhei até a casa dela não sei porque, a gente mal se falava, mas era como se algo me dissesse que eu tinha que ir. Quando cheguei na rua dela vi sirenes de ambulância. Corri. As ambulâncias estavam paradas em frente a casa da garota. Milhares de perguntas passaram pela minha cabeça, mas eu não sabia a resposta pra nenhuma. Fiquei ali na frente parado, sem reação, pois quando ia chamar a porta da frente foi aberta e dois homens carregavam um corpo. Sangue pingava pelo chão. Meu Deus o que era aquilo ? O corpo passou por mim. Não.. não podia ser verdade. Aquele lindo rosto… Eu nunca mais ia ver um sorriso estampado nele. Lágrimas brotaram em meus olhos. O corpo foi colocado na ambulância e eu fiquei olhando dentro dela os homens tentando reanimá-la com choques. Mas ela já estava pálida demais. Já era tarde. O tempo já havia se acabado. A mãe dela estava descontrolada, nunca vi alguém chorar tanto. Seu pai abraça seu corpo sem vida e murmurava algo que eu não pude ouvir. Sai dali, aquela cena estava me deixando com náuseas. Fui correndo pra minha casa. Me fechei no quarto e chorei. A menina havia partido, ela havia tirado sua própria vida. Os motivos talvez eu soubesse, mas resolvi ignorá-los por enquanto. E então um pensamento passou pela minha mente, e ficou ali me torturando, me castigando. E ele era totalmente verdadeiro. Se eu tivesse feito algo, tomado alguma atitude aquele dia, se eu a tivesse ajudado, se eu não a tivesse abandonado assim como os outros fizeram, talvez ela estaria aqui agora, viva e sorrindo pra mim.
( Autor: Desconhecido )

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